Os 10 maiores cantores da música popular brasileira em todos os tempos

 

Revista Bula

 

Não sei quanto a vocês mas, eu detesto listas. Todas elas. Simplesmente, não suporto. Lista de convidados. Lista dos convidados a se retirarem. Lista de medicamentos. Lista de espera. Lista de aprovados. Lista de recém-nascidos. Lista de mortos na queda de um avião. Lista de demitidos. Lista de compras pro supermercado. Lista de alimentos que dão câncer. Lista dos lábios que eu não beijei. Lista de doenças sexualmente transmissíveis. Lista para a câmara de gás. Lista dos mais incríveis, dos inesquecíveis, dos mais influentes, dos piores, dos queridinhos, dos preteridos. Lista das listas. Eu acho tudo isso um saco.

Por que, então, volta e meia, eu as escrevo? — vocês hão de perguntar, pois também não se ligam nelas ou, ao contrário, são uns aficionados. Eu as faço, caros leitores, por contingências do meu editor. Só isso. Ele me obriga. Sou regiamente pago com mimos, confesso. Sou movido à bajulação e ele vive a dizer que eu escrevo demais. Também penso assim. Se me deixarem, eu escrevo muito, um dia inteiro e sem fazer pausa. Um escândalo.

O sujeito garante que sou um fenômeno em compilar pesquisas de opinião e redigir as listas. Ele me acha bem humorado, vivaz, divertido, praticamente um palhaço. “De vez em quando, é importante para você sentir o fragoroso ódio dos leitores. Faz muito bem para o seu amadurecimento enquanto cronista…”. Não sei de que maldito manual de autoajuda ele tirou isso, mas o fato é que já sofri toda sorte de ataques e esculhambações por conta do seu fetiche pelas listas.

Mesmo assim — por puro ócio e vontade de sofrer — partimos para mais uma pesquisa. Provocamos os nossos leitores a palpitarem quais seriam os 10 maiores cantores de música popular brasileira em todos os tempos. Para garantir a prolixidade da enquete, os critérios, além de confusos, foram inúmeros. Afinal, nossos leitores são espertos, diferenciados, ávidos como o cão, fissurados em polêmica.

Para início de conversa, a pesquisa valia apenas para os cantores populares, de qualquer período da história, ambos os sexos, vivos ou mortos (procuram-se!). O critério mais relevante dizia respeito à qualidade vocal em si: timbre, potência e técnica. Outros parâmetros importantíssimos foram requeridos: a qualidade do repertório gravado (o chamado “conjunto da obra”), o carisma e a emoção em cantar.

Depois de apurar um toró de palpites (foram mais de 4 mil participantes), ficou assim a nossa lista. Como forma de tributo, achamos conveniente incluir o link de uma canção para cada um dos dez eleitos. Para o sossego e regozijo do meu editor, espero que a maioria de vocês aprove o resultado. Aos que, mais uma vez, me odiarem, aturdidos pelas vozes que ficaram fora da lista (ou que nela entraram), desejo que tenham um bom dia e uma excelente dor de cabeça ao som de muito funk da laje.

Elis Regina — Como Nossos Pais (Belchior)

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Elis Regina

Seja entre leigos ou entendidos em música, a Pimentinha é quase unanimidade, quando se trata de apontar quem é a melhor cantora brasileira de todos os tempos. Além da técnica vocal apurada e do esmero na escolha do repertório, Elis cantava com uma devoção meio messiânica, como se cada canção fosse um hino, uma confissão ou um prato de comida.

Tim Maia — Sofre (Tim Maia)

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Tim Maia

Considerado o Rei da Soul Music no Brasil, “síndico da MPB”, dono de um vozeirão inconfundível, Tim Maia foi um cantor talentoso, um fanfarrão assumido, e um bon vivant tão desencantado com o Universo que acabou devorado por ele mais cedo do que nós merecíamos.

Wilson Simonal — Tributo a Martin Luther King (Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli)

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Wilson Simonal

Simonal foi um show-man, um disparate, um negro brasileiro que deu certo. Com voz potente e carisma impressionante, venceu o duplo preconceito por ter nascido preto e pobre, mas perdeu feio para os seus pares, para o sistema e — quem sabe — para si mesmo, durante os intolerantes anos de ditadura militar no Brasil.

Milton Nascimento — San Vicente (Milton Nascimento e Fernando Brant)

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Milton Nacimento

Essa coisa de mineirinho comer pelas beiradas não funciona com Milton Nascimento. Bituca já ganhou alguns Grammy e é um dos artistas mais conhecidos e respeitados no mundo inteiro, mesmo onde Minas não há mais.

Ney Matogrosso — Viajante (Teresa Tinoco)

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Ney Matogrosso

Ney leva vantagem sobre os demais colegas de profissão porque, além de ser um excepcional intérprete, dono de uma voz ímpar no cancioneiro tupiniquim, ele canta com a garganta e com o corpo, numa levada sensual que sempre fez enorme sucesso entre marmanjos e moçoilas, desde os primórdios, quando integrava os Secos e Molhados.

Caetano Veloso — Nature Boy (Eden Ahbez)

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Caetano Veloso

Assim como Gil e Chico Buarque, Caetano Veloso faz parte do seleto clube de queridinhos da MPB. A voz é doce; a língua, afiada; e o cérebro — para a felicidade geral da nação —continua inquieto.

Maria Betânia — O Ciúme (Caetano Veloso)

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Maria Betânia

Betânia parece aquele jogador médio-volante de um time de futebol, que não marca gol, joga como ninguém, mas não aparece tanto assim para a torcida. Dizem que é uma artista recatada, discreta, avessa aos holofotes. Nem precisava: luz é com ela mesmo. No palco, cantando, ilumina o coração da plateia com sua vocação para ser estrela.

Gal Costa — É Luxo Só (Ary Barroso e Luiz Peixoto)

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Gal Costa

Esse povo da Bahia é mesmo arretado. Rebolar é pra quem quer; cantar é pra quem pode. E nem precisa trio elétrico, bumbum pra fora, foto na revista e coisa e tal. Seu nome é Gal: a voz.

Nelson Gonçalves — Caminhemos (Herivelto Martins)

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Nelson Gonçalves

Fiquei feliz à beça pelo Nelson aparecer entre os dez eleitos nesta pesquisa. É gostoso lembrar do meu pai cantando lá em casa — nos idos da minha meninice — imitando, esforçando-se ao máximo, tentando cantar “Boemia” como o Nelson fazia, com aquela voz grave que nem a vida. Ah… Vou acabar de escrever este texto e cantar pro meu pai.

Emilio Santiago — Verdade Chinesa (Carlos Colla e Gilson)

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Emilio Santiago

Verdade brasileira seja dita: a voz doce, gostosa e suave de Emílio Santiago talvez tenha sido um dos tesouros mais subestimados da MPB em todos os tempos.

Eberth Vêncio

Eberth Vêncio       É escritor e médico

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