Show revelará um Pixinguinha pouco conhecido
Roger Marzochi - Agência Estado
São Paulo, 23 - Um show em homenagem a Pixinguinha
tem que ter a música "Carinhoso", um dos seus choros mais famosos. Certo? Não é
o que pensam o Movimento Elefantes, que reúne dez big bands, e o Movimento
Sincopado, que agrupa 11 bandas de choro. Nesta segunda-feira, 23, dia em que se
comemoram os 115 anos de nascimento do maior responsável pela popularização do
choro no país e o Dia Nacional do Choro, os dois movimentos se unirão no Teatro
da Vila, em São Paulo, para tocar os arranjos originais que Pixinguinha fez para
a Orquestra do Pessoal da Velha Guarda, que se apresentava ao vivo no programa
"O Pessoal da Velha Guarda", transmitido pela Rádio Tupi entre as décadas de 40
e 50.
"O brasileiro se esqueceu
da música do começo do século passado e se esqueceu até que ele (Pixinguinha)
escreveu para orquestra. Não vai ter ''Carinhoso'', mas vai ter ''Corta-Jaca'',
da Chiquinha Gonzaga. Vai ser difícil tocar com a linguagem daquela época. Mas
vamos fazer o Brasil escutar o Brasil", diz Vinicius Pereira, líder do Movimento
Elefantes.
Segundo Pereira, o
show será possível porque o Instituto Moreira Salles (IMS) doou ao coletivo a
publicação "Pixinguinha na Pauta", lançada em 2010, reunindo 36 partituras
originais com os arranjos de Pixinguinha, que era também diretor do programa de
rádio. Uma nova publicação, com outras 36 partituras com arranjos do mestre do
choro será lançada até o final deste ano, afirma Beatriz Paes Leme, diretora de
música do IMS. Em 2000, a família de Pixinguinha cedeu ao instituto todo o seu
acervo e, desde então, o material vem sendo catalogado e revisado. Segundo
Beatriz, no acervo há um total de 300 arranjos feitos pelo
Pixinguinha.

Partitura escrita por Pixinguinha,
com sua calegrafia e assinatura, de sua música "Conversa Fiada",
arranjo para o 1º sax alto da
orquestra. A partitura ainda traz a assinatura do saxofonista Luiz
Americano,
que tocou esse arranjo no dia
18/7/1939. (Crédito: Acervo Pixinguinha/ Instituto Moreira
Salles)
Almirante
- O programa era comandado pelo
radialista Almirante e tinha como objetivo resgatar a produção musical
brasileira do final do século 19 e início do século 20, com ritmos como o
maxixe, o tango, a polca, o eschottich e a marcha, dando espaço para a obra de
compositores como Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros e Ernesto Nazareth e
compositores contemporâneos, como o próprio Pixinguinha.
"Pixinguinha tinha uma técnica especial para
escrever arranjo, que é a coisa mais bonita. A essência da música brasileira, da
mistura da cultura europeia com os ritmos africanos aqui, está em Pixinguinha.
Por isso é importante tocar músicas que o público não conhece", diz o maestro
José Roberto Branco, que vai reger no palco cerca de 25
músicos.
De acordo com Beatriz,
do IMS, a grande contribuição que Pixinguinha deu ao arranjo foi o de trazer o
ritmo da percussão para os instrumentos de sopros, escrevendo música pela
primeira vez com a cara do Brasil. "Ele traz nitidamente a marca brasileira. Os
outros maestros que trabalhavam no Brasil eram estrangeiros ou descendente de
estrangeiros, com outra concepção de arranjo, sem julgamento de qualidade. Mas o
Pixinguinha trouxe o ritmo da percussão para o naipe de sopros, essa é a grande
contribuição dele. Colocar a levada nos naipes dos instrumentos, a rítmica
brasileira estava presente nas notas."
Tromba de elefante e pata sincopada
- O Movimento Elefante entrará no
projeto com os instrumentos de sopro; o Movimento Sincopado, com violões,
acordeon, piano, percussão e cavaquinho. E ainda participarão músicos que tocam
violino e violoncelos. "Não terão violinos e violoncelos na mesma quantidade que
o arranjo original exige. Não é fácil montar um projeto como esse sem apoio. Mas
o resultado sonoro é um negócio fascinante", conta Marcel Martins, integrante do
Movimento Sincopado.
Segundo
ele, esse repertório exige não apenas muito estudo para ser executado, mas
também sentimento. "Eu toquei com o Altamiro Carrilho. E ele chegou para o
flautista e disse: ''você está tocando a nota certa no tempo certo, mas não tá
certo, porque falta o sentimento''. Essa música carrega a bandeira sentimental
que demarcaram a característica do povo brasileiro."
Das 36 partituras que fazem parte da publicação do
IMS, foram escolhidas 20 músicas para a apresentação nesta segunda-feira, como,
por exemplo, "Água de Vintém" e "Corta-jaca" (Chiquinha Gonzaga), "Cabeça de
Porco" (Anacleto de Medeiros), "A mulher do bode" (Cardoso de Meneses),
"Conversa Fiada" e "Assim é que é" (ambas do Pixinguinha). No site do IMS é
possível ouvir as gravações originais das músicas que fazem parte do
"Pixinguinha na Pauta" (www.ims.com.br).
Segundo Beatriz, encontrar as gravações originais,
sabendo que o Pixinguinha estava presente naquele momento, foi muito importante
para dar uma ideia da música que ele tinha em sua cabeça ao escrever os
arranjos. "O fato de ter as gravações onde o Pixinguinha estava presente dá uma
referência do som que ele buscava, porque nem sempre a partitura dá conta de
tudo. Isso nos aproxima da música que ele tinha na cabeça. É a mesma coisa se
fosse possível ter a gravação de Bach tocando cravo. A gravação ajuda até para
tocar músicas que não tem gravação, porque ela nos dá um
parâmetro."
Aniversário do
Pixinguinha!
Teatro da
Vila
R. Jericó, 256, Pinheiros, São
Paulo
Segunda-feira,
21h
Preço: pague quanto
vale
Transmissão ao vivo:
www.movimentoelefantes.com
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