PRIMEIROS ACORDES









O aprendizado musical pode trazer inúmeros benefícios para o desenvolvimento das crianças

Cristiana Vieira - O Estado de S. Paulo


O trabalho musical começa nove meses antes do nascimento, já dizia o flautista, regente e compositor alemão Hans-Joachim Koellreutter, que formou várias gerações de músicos brasileiros. Entre eles, a educadora musical Teca Alencar de Brito, que teve sua iniciação aos 5 anos – hoje com 55. Para ela, música é uma forma de interagir com o mundo, e integra um trabalho do corpo, da mente, da intuição, do pensamento racional e intelectual, estabelecendo diversas relações que fazem parte do ser humano Digite o resto do post aqui

No entanto, Teca torce o nariz quando o foco do aprendizado musical é desviado para outras áreas. É que muitos pais incentivam o filho a estudar música depois que ouvem dizer que ela desenvolve o raciocínio matemático, por exemplo. "Claro que a criança aumenta sua capacidade de coordenação motora, trabalho com o corpo, raciocínio, intuição, criatividade, concentração, memória...", admite. "Mas a música é importante por si só", enfatiza. Quando o aluno se dedica de maneira natural, acredita ela, terá a chance de conferir os resultados em outras áreas.



Além disso, Teca acredita que criança não precisa ouvir apenas música infantil. Mas, sim, deve entrar em contato com outros universos. "É importante, pois, quando crescem, a mídia e a educação acabam fechando essas possibilidades", lamenta.




LEMBRANÇAS – Isabella sempre ouvia música com a avó



Um bom exemplo é Stefany Rodrigues, de 9 anos. Desde pequena, ela ficava vidrada nos concertos transmitidos pela TV, especialmente quando havia algum violinista tocando. Aos 6 anos, começou a estudar e ainda se lembra das dificuldades dos primeiros dias, quando voltava para casa com dores no braço. "Foi difícil, mas depois me acostumei. Hoje toco música clássica e participo de uma orquestra evangélica", conta a garota, que tem planos de estudar também piano e saxofone.




PRINCIPAIS ESTÍMULOS
Socialização
Percepção sensorial
Ritmo
Memórias auditiva e timbrística
Fala
Lateralidade
Atenção e reação
Conhecimento corporal
Linguagem gestual
Coordenação motora

Com foco no universo infantil e no padrão de qualidade, os músicos Paulo Tatit e Sandra Peres criaram o selo Palavra Cantada, uma gravadora que constrói melodias, letras e arranjos com minuciosidade para a garotada. "Temos uma estética cuidadosa para não criar distância do universo lúdico, usando letras com poesia", explica Sandra.



A professora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), que trabalha com diferentes linguagens da infância, Maria Ângela Barbaro Carneiro, destaca que, quando os pequenos não são estimulados a ouvir música, crescem com repertório pobre. "Todos nós desenvolvemos as habilidades de acordo com o ambiente em que vivemos."



Thomas Fusco tem 9 anos e toca bateria há um ano, uma vez por semana. Quando tem tempo e não está na fase das provas escolares, ele aproveita para estudar e treinar sozinho em casa. "Só posso tocar até as 6 da tarde, para não incomodar os vizinhos." Seu irmão Pedro, de 12 anos e fã dos Beatles, preferiu as aulas de guitarra.



A exploração sonora começa desde recém-nascido. Qual a criança que não tem um brinquedo que emite algum tipo de som? Só não vale ser estridente, nem alto. Além disso, tem os sons produzidos com a boca, lábios, estalar de dedos e até com os animais. O diretor da Music Center, escola com 19 anos de atuação, Rubens Gianotti Pimentel, incentiva o ensino de instrumentos desde os 6 anos, embora ofereça aula para bebês a partir de oito meses. "Quanto mais cedo, maior a oportunidade para desenvolver as percepções rítmicas e sensoriais." Fica frustrado quando algum pai desestimula o filho a prosseguir com o aprendizado. Para evitar isso, sugere que os pais se coloquem no papel de educadores, caso percebam que a criança não tem estímulo para frequentar as aulas. "Muitas vezes ela deseja tocar um instrumento, mas ainda não está preparada para aprendê-lo. Alguns exigem um certo desenvolvimento físico, pois podem ser muito pesados ou até machucar os dedos. E se os pais não entenderem isso, podem desestimular e, consequentemente, deseducar o nosso aluno", explica.




ATRAÇÃO – Atendendo a pedidos, Karla toca piano nas festas da família



PARECE BRINCADEIRA
Fã de Elis Regina, Tom Jobim e Diana Krall, Sophia Alfonso Frederico tem 11 anos e estuda música desde os 8. "Não pararia por nada", garante. Toca piano, flauta, canta e faz aulas de inicialização musical. Quando se trata de crianças, é preciso cuidado para não confundir estimulação para a música com aquele treinamento mecanizado, cheio de sistematização, que nem sempre motiva.




Para Teca, que há 25 anos criou a Teca Oficina de Música, o trabalho musical é entendido como um processo contínuo de construção. Envolve perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir. Portanto, é preciso tato para não transformar os cursos infantis de música em aulas de repetição, com propostas e cobranças de atitudes que não fazem sentido para as crianças – como exigir que um bebê acompanhe o tempo e o ritmo certinhos da música. "Tem de ser feito de acordo com as características da criança, utilizando figuras e, se possível, praticando as aulas na companhia de um adulto (pais ou babá), para que a estimule."




INFLUÊNCIA – Sophia homenageia ídolos no piano e na flauta



Outro bom exemplo vem do grupo de música instrumental Zimbo Trio, que nasceu em 1964 e, desde então, passou a receber pedidos de aulas de música, o que não era possível, devido à agenda de shows pelo Brasil. Foi quando desenvolveram uma metodologia pioneira no País, para quem quisesse aprender a tocar e, logo, tiveram de fazer uma adaptação para a molecada. "A criança é um ser musical e precisa ser despertada para isso", defende o músico e diretor do Centro Livre de Aprendizagem Musical, Amilton Godoy, do Zimbo Trio.



Há cinco anos, as aulas de piano fazem parte da vida de Karla Galvão Oliveira, que hoje tem 13 e passou a estudar canto recentemente. Ela conta que, quando pensou em tocar algum instrumento, titubeou entre piano e guitarra. Mas optou pelo piano clássico. Agora, a garota virou a atração das festas de família. "Os convidados pedem para eu tocar alguma música", conta. Logo terá a companhia do irmão, que faz aulas de guitarra.



Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, entre outras atividades, despertam, estimulam e desenvolvem o gosto musical. Isabella Malta Cardozo Ferro, de 15 anos, estuda música desde os 7, no Centro Livre de Aprendizagem Musical (Clam), onde foi formado o grupo Soprando Notas. Sua memória musical vem dos tempos em que ouvia canções ao lado da avó. Hoje, enquanto a maioria dos amigos toca violão, ela já passou pelas aulas de flautas doce e transversal – sendo que a prática da última começou aos 11 anos, pois este instrumento exige um certo desenvolvimento físico.



Agora, Isabella está ansiosa para o início das aulas de sax soprano. E quando o assunto é o mito de que alunos de música têm boas notas de matemática, ela é categórica: "sou péssima nas contas."


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