INDIA VANUIRE - Personalidades Tupaenses


Vanuíre, a heroína da pacificação
Vinda do Paraná, índia caingangue é considerada uma das figuras essenciais para o fim dos conflitos no oeste de São Paulo
Corpo franzino envolto em trajes singelos; rosto repleto de sulcos, emoldurado por um lenço e algumas mechas de cabelos brancos. Figura frágil, mas dotada de valentia superior à de muitos guerreiros (sua coragem não era a dos que empunham revólveres ou facas, mas sim a daqueles que conferem à vida humana um valor que nenhum punhado de terra é capaz de pagar), a índia Vanuíre é considerada uma das figuras cruciais para que a paz entre brancos e índios no oeste de São Paulo pudesse ser selada.

A história da índia caingangue é um tanto obscura. Ninguém sabe ao certo quando e onde ela nasceu. Atualmente, existe um consenso entre pesquisadores de que ela teria vindo do Paraná. “Pelo que sabemos, Vanuíre trabalhava na lavoura em uma propriedade situada próximo à divisa com São Paulo. Como já estava acostumada ao convívio com os brancos, acabou sendo chamada pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) para mediar as negociações de paz com os índios”, afirma Tamimi David Rayes Borsatto, diretora do Museu Histórico Pedagógico “Índia Vanuíre”, em Tupã (182 quilômetros de Bauru).

Devido à pobreza de documentos oficiais referentes ao fato, os relatos envolvendo a índia são recheados de licenças poéticas e, por vezes, a história acaba ganhando ares de romance ou mesmo de lenda.

Por volta de 1910, o principal foco de resistência indígena estava concentrado no vale do Rio Feio, também conhecido como Aguapeí. Um grupo chefiado pelo cacique Iacri (que hoje empresta o nome a uma cidade situada nas imediações de onde o conflito ocorreu) não queria saber de dialogar com os brancos.

O ainda coronel Cândido Mariano Rondon, fundador do SPI, resolveu recorrer ao auxílio de um grupo de caingangues “pacificados” que trabalhavam como escravos na Fazenda Campos Novos do Paranapanema, no Paraná. É interessante notar que seres humanos pudessem ainda viver na condição de servidão, a despeito de a escravidão no Brasil ter sido abolida em 1888.

Embora convivesse de perto com os brancos, Vanuíre mal sabia falar português direito. Por outro lado, como era uma das mulheres mais velhas da tribo e tinha grande habilidade para contar histórias, atuava como uma espécie de guardiã das tradições de seu povo.

“Vanuíre prestou um enorme serviço para a pacificação de seus irmãos. Ela desejava salvar da morte o que ainda restava de seu povo”, conta o historiador bauruense Luciano Dias Pires, editor do suplemento Bauru Ilustrado, do Jornal da Cidade.

Conta a lenda que, cansada de ver a dizimação de seu povo, Vanuíre costumava subir em um tronco de jequitibá de dez metros de altura, onde permanecia, do nascer do dia ao cair da tarde, entoando canções em favor da paz.

Ela também teria o costume de colocar presentes nas bordas da floresta para atrair a simpatia de Iacri e seus comandados. Por meses, o esforço da velha caingangue parecia ter sido em vão. Certo dia, porém, ao caminhar pela mata, Vanuíre notou que os presentes haviam sido recolhidos pelos índios, que, em troca, deixaram flechas e mel.

Segundo Luciano Dias Pires, o dia 19 de março de 1912 foi decisivo para o final dos conflitos. “Pouco depois do meio-dia, dez guerreiros caingangues se apresentaram no acampamento branco. Vinham desarmados. Marchavam resolutos. Davam sinais de que desejavam fumar o cachimbo da paz com os integrantes do SPI”, narra o historiador.

De acordo com ele, “a velha Vanuíre, percebendo a atitude pacífica dos guerreiros, não conteve o entusiasmo e marchou firme ao encontro dos visitantes. Disse a eles que seriam acolhidos como irmãos e pediu que a acompanhassem ao acampamento. A cena causou forte emoção em todos que ali estavam.”

O encontro permitiu a retomada das obras da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), e Vanuíre ganhou fama de pacificadora em toda a região. Ela viveu seus últimos dias na aldeia caingangue de Icatu, no município de Braúna, região de Tupã, onde veio a falecer, em 1918.

Mais tarde, seus restos mortais foram levados a Tupã e depositados em um mausoléu construído em frente a uma escola estadual que leva seu nome.

Vanuíre também é o nome de um posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) existente no município de Arco-Íris, São Paulo; de uma escola estadual de educação indígena situada no local; de um museu histórico em Tupã; e de um núcleo habitacional localizado na zona norte de Bauru.

Inaugurado em 1989, o Núcleo Índia Vanuíre foi construído pela Companhia de Habitação Popular de Bauru (Cohab). Possui 308 casas e aproximadamente 1.200 moradores. O projeto de lei que deu o nome ao conjunto habitacional foi de autoria do vereador Lucrécio Jacques, falecido em 2006.
Rodrigo Ferrari




Para Pelegrina, história possui lacunas demais

O historiador bauruense Gabriel Ruiz Pelegrina não tem medo de polêmica. Aos 88 anos de idade, não teme colocar em xeque um dos principais ícones de Bauru e região: a índia Vanuíre. Ele é taxativo em dizer: “Em todos esses anos de pesquisa em jornais e documentos oficiais, nunca encontrei uma linha sequer que fizesse referência a ela.”

Pelegrina possui em seus arquivos mais de uma dúzia de retratos em preto e branco da caingangue considerada heroína da pacificação indígena no início do século 20. “Dizem que é a Vanuíre nas fotos, mas quem pode garantir? Pode ser alguma índia catequizada qualquer”, provoca.

De acordo com Pelegrina, a imprensa de Bauru do começo do século 20 teria feito uma ampla cobertura dos conflitos entre brancos e índios na região. “Nenhum jornal, porém, mencionava a índia Vanuíre”, garante.

O historiador, que já pesquisou sobre o assunto em diversos livros da época, conta que nenhum sertanista (nem mesmo o Marechal Cândido Rondon, a quem é atribuída a vinda de Vanuíre a São Paulo) menciona a existência de Vanuíre.

Mito?

O historiador bauruense João Tidei de Lima, professor aposentado da Universidade Estadual Paulista (Unesp), afirma que Vanuíre realmente existiu. “Ela foi uma figura importante na pacificação”, garante.

De fato, houve uma moradora da aldeia indígena de “Icatu”, no município de Braúna (região de Tupã), que se chamava Vanuíre. Era vinda do Paraná e se fixou no local no início da década de 1910.

Muito respeitada entre seus pares por conhecer os cantos e tradições caingangues, acabou ganhando fama de responsável pela pacificação dos índios que estavam em guerra com os brancos. Faleceu em 1918, e teve seus restos mortais levados a Tupã, anos mais tarde.

“A história de Vanuíre pode até parecer um pouco romanceada. Mas que ela de fato existiu e teve papel fundamental na pacificação dos índios da região, ninguém pode negar”, afirma a diretora do Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre, Tamimi David Rayes Borsatto.

Moradores mais antigos das aldeias da região de Tupã afirmam ter conhecido de perto a “pacificadora”. Inclusive, o cacique caingangue da aldeia “Índia Vanuíre”, Irineu Cotuí, 58 anos, seria descendente de uma irmã de Vanuíre.
Rodrigo Ferrari


copilado do Blog DEMASIADO HUMANO

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