JOHNNY ALF - Discreto, Tímido, Genial e Modesto;

Discreto, tímido, genial e modesto, ele era classe A, mas viveu sempre no lado B



Caso típico de gênio cult subestimado pelo gosto popular, Alf, como a história da bossa nova, não parou nunca. E mesmo produzindo pouco, não se deteve no pedestal de pioneiro. Embora escassa, sua discografia é registro insuspeito de que esteve aberto às transformações de cada época (no disco Desbunde Total gravou até balada pop), sem perder a linha; e suas influências, tão notáveis, não permitem que sua fama seja reduzida à de precursor da bossa nova, mas um de seus motores constantes. Jamais deixou de soar moderno e estimulante. Está aí Mais Um Som, para quem quiser comprovar.

Com o pseudônimo de apelo internacional e o estilo sofisticado que namorava com o cool jazz, Alf poderia ter-se lançado à fama nos Estados Unidos - como Sergio Mendes, Astrud Gilberto, Laurindo de Almeida, Moacir Santos, Eumir Deodato e Antonio Carlos Jobim. Isto se tivesse pelo menos aceitado o convite do compositor Chico Feitosa para se apresentar no Carnegie Hall, em Nova York, no evento que consolidou o sucesso da bossa nova no exterior, em 1962. Preferiu ficar no Rio.

Alf era classe A, mas viveu no lado B da bossa nova. "Ele não estourou porque chegou cedo demais", afirmou Roberto Menescal. Conta ponto também o fato de Alf ser avesso a badalação e o fato de ter trocado o Rio por São Paulo o fez situar-se como dissidente, ficando fora da panela da bossa nova em sua eclosão. "O que eu faço não é bossa nova, mas samba-jazz", desconversou certa vez.

Alf era tímido, muito discreto e modesto. "Posso dizer que fiz alguma coisa um pouco antes do resto do pessoal", disse. Suas melodias e letras até meados dos anos 1960 eram carregadas de melancolia noturna: nada de barquinhos, manhãs de luz e tardinhas de cartão postal. O estilo de vida de então e, paralelamente o de sua música, destoava do padrão ensolarado de seus pares cariocas. Não estranha que, desestimulado na terra da Garota de Ipanema, tenha trocado a beira-mar pela então fria capital paulista. "Sempre estive afastado da patota, porque sou muito desconfiado das pessoas. Os problemas que tive na vida me criaram dificuldade de relacionamento. Em meio de grupinho, nunca estava seguro."

Tampouco surpreende o fato de que Ilusão à Toa, composta nos pouco liberais anos 50, seja considerada uma canção de amor gay enrustido. Uma das que veem a letra por esse ângulo é a cantora Leila Maria, que lançou em 2007 o álbum temático Canções do Amor de Iguais, incluindo a canção de Alf que inspirou Um Certo Alguém (Lulu Santos/Ronaldo Bastos) e Amor Mais Que Discreto (Caetano Veloso). L.L.G.


REPERCUSSÃO

Wilson das Neves
Baterista e compositor
"Tive o prazer de gravar com Johnny Alf, um grande cantor e compositor, que já era moderno e atual naquela época"

Carlos Lyra
Violonista e compositor
"Ele era muito querido, um dos precursores da bossa nova, como Dick Farney, Lúcio Alves. Abriu os caminhos pra gente com aquela maneira de tocar piano, com influência do jazz"

Joyce
Cantora e compositora
"Johnny tem uma obra incrível, mas saiu muito pouco do Brasil. Era uma pessoa fechada, tímida, não queria sair da zona de conforto que tinha na noite de São Paulo. Tínhamos uma afinidade musical muito grande. Cresci ouvindo Johnny Alf. O primeiro disco que comprei foi Rapaz de Bem"

Sérgio Ricardo
Violonista e compositor
"Aprendi muito ouvindo Johnny Alf. Ele só não explodiu na mídia por causa da grande qualidade da música: era boa demais, não era comercial. E acho que o racismo
o prejudicou, apesar de dizerem que isso não existe no Brasil"

João Donato
Pianista e compositor
"Aprendi muito com o João e em poucas palavras poderia dizer que o que ele me ensinou nunca esqueci. Aprendi com ele todas as harmonias modernas que a música brasileira começou a utilizar na bossa, no samba jazz, no som instrumental"
do ESTADÃO DE HOJE|Metrópole de 05.03.2010
http://www.estadao.com.br

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