Noite Feliz

Joseph Mohr 1816: Franz X Gruber 1818
Cada povo tem suas canções, seus próprios cânticos de Natal. Entretanto
existe uma canção de Natal interpretada practicamente no mundo inteiro, em todas
as línguas, NOITE FELIZ

Poderíamos dizer que a história da canção de Natal "Noite feliz", é como un


conto de fadas, mas a realidade é bem diferente: ela evoca miséria, marginalização

e enfermidades, mesmo se algumas vezes a vida de seus autores contem

surpresas e quase verdadeiros milagres. Há mais de 200 anos, no dia 11 de

dezembro de 1792, um ano depois da morte de Mozart, um menino pobre nasceu

na mesma cidade do célebre compositor, em Salzburgo, Austria. Era o terceiro filho

de Ana Schoiber, uma costureira que remendava e fabricava meias. O pai dele

chamava-se Joseph Mohr, um soldado que legou o nome ao filho antes de desertar

e desaparecer, deixando a família na miséria. As autoridades de Salzburgo

acharam que 3 filhos naturais era demais. Ana Schoiber foi condenada a pagar uma

multa de 9 florins. Devemos saber que um boi custava na época 12 florins. Daí dá

para compreender que a pobre costureira nunca iria possuir tanto dinheiro. Tinha

que pagar com a cadeia... Naquele momento surgiu a salvação na pessoa de

Joseph Wohlmuth, um homem que afirmou querer pagar a multa de Ana Schoiber

se pudesse ser o padrinho do pequeno Joseph. Visto que Wohlmuth era o carrasco

oficial de Salzburgo, ele não podia entrar na igreja para o batismo da criança, e

mandou sua cozinheira substitiú-lo na cerimônia. Foi assim que começou a vida

difícil do menino Joseph Mohr: sem pai, vivendo na miséria com a mãe e dois

irmãos, tendo um padrinho que era o carrasco da cidade. A pequena família morava

perto do Monte dos Capuchinhos, num apartamento invadido pela humidade: tal

situação foi a origem da tuberculose de Joseph. Em condições tão precárias como

essas, na Salzburgo do início do século 18, era impossível prever um futuro para

um menino que não sequer a oportunidade de aprender um oficio qualquer. Muitas

vezes, sentado na escada da casa, Joseph pensava cantando em voz alta. Um

dirigente do coro da Catedral de Salzburgo descobriu essa voz e convenceu a mãe

que deixasse o filho cantar na igreja. Abriram-se assim para Joseph as portas de

uma vida melhor. Uma certa amargura surgiu, depois daquela felicidade. Nos

registros da escola Joseph Mohr teve de ser declarado órfão. Essa desumana

medida foi tomada para proteger o menino, visto que na época filhos de mães

solteiras não eram admitidos em nenhum lugar. Assim Joseph era até obrigado a

evitar a mãe quando a encontrava na rua. Apesar de tudo, aos 7 anos de idade,

Joseph foi para a escola primária e alguns anos mais tarde terminou o curso

secundário. Já tocava violino e cantava no coro da Igreja de São Pedro de

Salzburgo. Em 1810 encontramos Joseph Mohr estudando filosofia e preparando-se

para o sacerdócio. Um ano mais tarde entrou no seminário. No dia 15 de julho de

1815 foi ordenado numa cerimônia solene na Catedral de Salzburgo. É incrível o

caminho percorrido por esse menino pobre de Salzburgo. A partir de um berço

cercado por tantas privações tornou-se um sacerdote letrado aceito pela Igreja.

Pouco tempo depois da sua ordenação o novo sacerdote teve que se

apresentar como vicário em Mariapfarr, um povoado longe de Salzburgo.
Foi em


Mariapfarr que seu pai tinha nascido. Joseph tinha o pressentimento que ali ele iria

encontrar alguns parentes, e, que teria de abandonar o anonimato de seu estado

civil de órfão. Esse povoado se encontra a mais de 1000 metros de altitude e só era

acessível no verão, em razão da neve invernal. O pároco de Mariapfarr contou ao

novo vicário que muitas casas da região haviam sido construídas com pedras de

lugares sagrados dos romanos e dos celtas e que ainda existiam muitas tradições

em matéria de medicina e nos costumes dos habitantes em geral.

Joseph Mohr visitou essas construções perdidas nas montanhas. Os

passeios nos bosques, o ar puro e a vida sadia fizeram desaparecer quase que

completamente os seu problemas pulmonares. Em Mariapfarr, Joseph Mohr

encontrou o seu avô. Era um homem sábio, conhecedor de todas as tradições e da

vida dos camponeses da região. Ninguém perguntou nada a Joseph sobre sua

origem: todo mundo aceitou-o como padre e como neto do velho Mohr. Na sua

paróquia, Joseph viveu um Natal extraordinário. Quando estudante assistira a festas

solenes e frias que não haviam tocado o seu coração. Em Mariapfarr Joseph viu

que com canções populares, podem existir festas alegres e profundas que

despertam calor humano e sentimentos de caridade nos corações.

É possível que naquela atmosfera, tão diferente da Catedral de Salzburgo,

tenha surgido a primeira semente da poesía e canção "Noite Feliz". Quando todos

os fiéis sairam da igreja os coroinhas acenderam as velas das lanternas para

iluminar o caminho das casas. "Noite silenciosa, noite santa. Todos dormem. Só o

santíssimo casal vela com carinho. Gracioso menino de cabelo anelado: Durma na

paz celeste". Assim começa a primeira estrofe da poesia que escreveu Joseph

Mohr. Recentemente, encontramos em Salzburgo um fac-símile do ano de 1816 da

cançao "Noite Feliz" para duas vozes e violão, com letra de Joseph Mohr, música

de Franz Xaver Gruber. 1816 foi o ano da morte do avô de Joseph em Mariapfarr. O

texto foi escrito quando a guerra havia terminado na Áustria.

A tuberculose recidivou mais uma vez. Depois de um período de

convalescença em Salzburgo, Joseph viu que não podia viver na montanha. Como

vicário encontrou outra paróquia a 20 km ao norte de Salzburgo, no povoado de

Oberndorf, à margem do rio Salzach. Foi alí que ele conheceu o maestro Franz

Xaver Gruber, organista, músico.

Os dois amigos começaram a tocar juntos na igreja e em casa. Joseph Mohr

ficou muito feliz em reencontrar o rio e os bosques de sua juventude. Foi bem aceito

pelos fiéis, porque um padre que podia ficar em posição reta e de pé numa

embarcação, era uma pessoa merecedora de respeito. Mas o padre do povoado

ficou com ciumes da ascendência espiritual entre os fiéis do jovem vicário. Ele

descobriu que Joseph era filho natural e começou a amargar a sua vida. Estamos

perto do Natal de 1818. O maestro e amigo Franz Xaver Gruber tentou uma

reconciliação organizando uma vigilia de Natal. Joseph procurou a poesia de Natal

que havia escrito em Mariapfarr e os dois amigos trabalharam na composição.

Assim, em 25 de dezembro de 1818, nasceu a canção de Natal que hoje em dia é

interpretada no mundo inteiro, em todas as línguas "Noite Feliz".

Autor: Peter Schuler Tradução: Magda Bonetti, Versão brasileira: Torquato Lei

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