O melhor jazz brasileiro de 2017 com a Big Band de Nelson Ayres

08/12/2017 – 01h15   MÚSICA

Nelson Ayres (Foto: Divulgação)

Nelson Ayres (Foto: Divulgação)

Ao contrário da maioria das casas noturnas, era nas noites de segunda feira que a Opus 2000, em São Paulo, lotava, no final dos anos 70. Nesses dias, a atração da casa era a Big Band de Nelson Ayres. A orquestra marcou época na noite paulistas, com seu repertório que mesclava o jazz com a música brasileira. Depois de mais de 40 anos daquela experiência, a Nelson Ayres Big Band volta a atuar e grava um álbum, que é um dos melhores lançamentos de 2017.


O pianista, compositor, arranjador Nelson Ayres, 70 anos, foi o primeiro, ou segundo, brasileiro a estudar na prestigiosa Berklee School of Music, a grande universidade do jazz, em Boston, nos EUA. O primeiro seria o saxofonista Victor Assis Brasil, que tinha chegado dois dias antes. Lá eles formaram um quinteto, junto com dois outros brasileiros, que chegaram depois, o trompetista Claudio Roditi e o baixista Zeca Assumpção, mais um baterista americano.

De volta ao Brasil, em 1973, os músicos Hector Costita, Amílson Godoy e Roberto Sion, seus amigos, queriam que Nelson Ayres lhes transmitisse os conhecimentos adquiridos na universidade americana. Eles incentivaram o pianista a organizar seminários sobre teoria musical e técnicas de orquestração e interpretação. Não havia, àquela época, uma metodologia de ensino de música popular e os métodos de jazz adotados pela Berklee eram fontes preciosas para quem queria estudar o gênero.

“A big band apareceu meio como um laboratório dessas aulas, para os músicos”, conta Nelson Ayres. “Nós tocávamos e improvisávamos. Era uma forma de juntar todo o mundo e colocar em prática o que estávamos estudando nos seminários. Era uma banda de ensaio, para pura diversão, como era muito comum ocorrer nos Estados Unidos”.

Nelson Ayres recordou que, em Nova York, costumava ir, às segundas feiras, ao tradicional clube de jazz Village Vanguard, assistir a apresentações da orquestra de Thad Jones. Era a noite que os músicos profissionais tinham livre e que dedicavam a projetos pessoais desse tipo. O músico levou a ideia para a Opus 2000, que já tinha uma programação de jazz durante a semana, mas que não funcionava na segunda feira.

“Conseguimos convencer o dono a abrir nesse dia para que pudéssemos tocar”, relembra o maestro. “Se algum amigo quisesse, podia ir assistir. Na primeira vez, tinham oito pessoas nos assistindo. Na segunda, umas vinte. Depois, passou a lotar. A segunda feira acabou virando o principal dia da Opus 2000” conta Nelson Ayres.

Com um naipe de metais formado por cinco saxofones, quatro trompetes e quatro trombones, além da sessão rítmica, a Big Band de Nelson Ayres tocou na Opus 2000até 1985. Foram sete anos de apresentações, às segundas feiras, que tornaram a orquestra uma referência para a música instrumental no Brasil. Mas durante todo esse período, não chegou a gravar nenhum disco, que mantivesse o registro da época.

Ao final do período da big band, Nelson Ayres resolveu trabalhar com conjuntos menores. Foi quando montou a Banda Pau Brasil. A proposta do grupo, era absorver e deglutir as influências do jazz, e de outros gêneros, e transformá-las em música brasileira. Ao mesmo tempo, ele dedicou-se a outros trabalhos solo, liderando o Nelson Ayres Trio, atuando com a cantora Monica Salmaso, entre tantos projetos. Nelson Ayres foi ainda diretor artístico e regente da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, por quase dez anos.

Todas essas atividades já ocupavam Nelson Ayres suficientemente. Por isso, ele relutou quando os trompetistas Nahor Gomes e João Lenhari, junto com o saxofonista Ubaldo Versolato, lhe propuseram que retomasse as atividades da Bing Band Nelson Ayres. Eles haviam conhecido a orquestra original, quando ainda garotos. Agora, profissionais renomados, sonhavam em remontar a mítica banda que fez história em São Paulo.

Felizmente, para todos, o maestro Nelson Ayres acabou se rendendo ao projeto. Encarregou-se de recuperar os arranjos daquela época e a escrever outros novos, para esses encontros. A banda tem feito temporadas, como as da antiga Opus 2000, agora no JazzB, outra casa de jazz que se impõe na noite paulistana. Dessas apresentações nasceu a necessidade do registro fonográfico, que não havia sido feito na primeira fase da orquestra.

O álbum Big Band (2017), de Nelson Ayres privilegia um repertório formado por clássicos da música brasileira e composições próprias do maestro. Entre os clássicos estão o tema Amphibious, de Moacir Santos e peça Sebastiana, de Jackson do Pandeiro, que ganharam arranjos originais para a banda. Uma das composições de Nelson Ayres que a big band apresenta é o tema Victor,  escrito em homenagem ao amigo dos velhos tempos de  Berklee, Victor Assis Brasil.

No vídeo a seguir, temos a Nelson Ayres Big Band com a peça Organdi e Gomalina, que o pianista Nelson Ayres escreveu inspirado em um casal que viu dançando na antiga gafieira Paulistano da Gloria, em São Paulo. Ela com seu vestido de organdi e ele com seu cabelo emplastado de gomalina, dando voltas pelo salão. A gravação foi feita durante apresentação no Teatro Sesc, em dezembro de 2016.

Flávio de Mattos

Flávio de MattosJornalista, escreverá aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso - O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço: senado.leg.br/radio

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