MÚSICOS - Destaques Brasileiros


Abel Ferreira
Abel Ferreira
* 15/02/1915 Coromandel, MG, Brasil.
† 02/04/1980 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Instrumentista, compositor.

Formação

Abel Ferreira foi autodidata, e não apenas na música, pois a família impediu seus estudos, obrigando-o a trabalhar desde pequeno em diversos ofícios. Tanto a escolaridade quanto a educação musical vieram às escondidas; o aprendizado da música nasceu do estímulo de escutar a banda filarmônica de sua cidade.
Há registros de que aos cinco anos tocava gaita; aos sete, flauta de bambu; e aos 12 anos, depois de ter-se iniciado por conta própria em teoria musical através de um método da década de 1920 chamado “Artinha”, experimentou pela primeira vez uma clarineta de 13 chaves, sob a orientação de um obscuro professor de Coromandel, de nome Hipácio Gomes.
Esparramei os dedos do menino no instrumento", comentou Hipácio Gomes, 30 anos mais tarde. Abel Ferreira não teve nenhum outro professor de música, nem antes, nem depois.

O contato com o saxofone veio aos 15 anos de idade; conta-se que, sabendo da existência de um sax alto numa outra cidade de Minas Gerais, Abel Ferreira viajou horas de trem apenas para conhecer o instrumento, que nunca havia visto. Aprendeu sozinho.
Embora intuitivo, Abel tinha ouvido absoluto e aprendeu a escrever música, dominava a teoria musical, fazia arranjos e tocava piano


Instrumentista

Juntamente com Pixinguinha e Luiz Americano, Abel Ferreira pode ser considerado um dos criadores da “escola brasileira de sopro”: um estilo marcado pelo improviso que, diferentemente da escola jazzística, apóia-se no lirismo das melodias, nos improvisos cantantes, no contraponto e numa rítmica de síncopas em compasso 2/4 ou 3/4, em lugar do compasso quaternário, das dissonâncias crescentes e do ataque agressivo ao instrumento que caracteriza a quase totalidade da música de jazz do mesmo período.
Uma carta escrita por seus filhos, Leonardo Bruno e Vânia Ferreira, lança luz sobre algumas características importantes de Abel como instrumentista: “não perdia a chance de exaltar e ‘tocar’ os sons que ficaram em sua memória e coração, sons vindos do cerrado, do Poço Verde, do Rio Paranaíba, os carros-de-boi, os pássaros e muitos outros pequenos seres que habitavam as redondezas, as folias de Santos Reis, as catiras (...), a Festa d´Água Suja, a Festa d´Abadia, a Festa da Lapa, o som das Barraquinhas de São Sebastião, das lindas e afinadas vozes femininas do coro da igreja de Santana (...); o som do harmônio que ele mesmo tocava, o som dos chorões e seresteiros como ele.
É interessante observar o contraste com Pixinguinha, que trazia na memória e nos sons a vida dos escravos, os instrumentos de percussão, os cantos de trabalho, o candomblé e o samba, muito mais do que a vida rural e a placidez das cidades do interior. O ponto de contato entre ambos foi o choro.

Como aconteceu com muitos outros colegas, a convivência com os grandes maestros e arranjadores da Rádio Nacional – formados em conservatório e, ao mesmo tempo, dedicados à música popular – somada ao ambiente de permanente desafio existente entre os músicos da época, levou Abel Ferreira a buscar a excelência como instrumentista.
Abel Ferreira aprofundou-se a tal ponto na técnica erudita que, em 1977, gravou com a Orquestra Sinfônica Brasileira regida pelo Maestro Júlio Medaglia, o Concertino para Clarinete e Orquestra, de Carl Maria von Weber, compositor alemão do período clássico-romântico contemporâneo de Beethoven.

Compositor

"Sua obra é de grande interesse. Sem fórmulas elaboradas e harmonias complexas, suas criações possuem o requinte parnasiano da originalidade melódica. Nisto era incomparável. A beleza de sua música é o reflexo de sua pequenina Coromandel, cheia de brilhos primitivos tão comuns no coração das Minas Gerais". (Lauro Henrique Alves Pinto)
Abel Ferreira faz parte da geração de compositores de choro da década de 1940 à qual pertencem, entre outros, Jacob do Bandolim, Severino Araújo, Cipó, Raul de Barros e Waldir Azevedo.
A primeira composição que gravou, em 1942, foi “Chorando baixinho”, que tornou-se um clássico instantâneo, e é presença quase obrigatória no repertório de todos os grupos e regionais de choro. Conta-se que a inspiração veio num momento em que esteve perto de abandonar a carreira musical, retornando a Coromandel para se tornar comerciante. O título da composição revela toda a sua melancolia.
A exemplo de outros compositores da época, Abel Ferreira encontrou no clarinete “um ambiente propício para desenvolvimento de novas matizes sonoras, nuanças cômicas e, enfim, efeitos surpreendentes.” (Jailson Raulino)
Enquanto que, nos Estados Unidos, Duke Ellington criava o jungle sound (o som da selva), com barragens de metais – saxofones, trompetes, trombones em alto volume e forte dissonância – vários compositores do choro dedicavam-se a utilizar os sopros para insinuar, reproduzir e traduzir objetos e situações do cotidiano. “Sururu no galinheiro”, “Galo garnizé”, “Chorinho do Bruno”, “O avião”, “Sai da frente” ou “Acariciando” são algumas das obras de Abel Ferreira que ilustram essa tendência.
Abel compôs mais de cinqüenta músicas, entre choros, valsas, serestas, maxixes, baiões e outros gêneros. Além de “Chorando baixinho”, “Acariciando” e “Luar de Coromandel” são as mais conhecidas.

Carreira

Sua carreira iniciou-se aos 17 anos, em 1932, quando foi contratado pela Rádio Guarani, de Belo Horizonte, como executante de clarinete, sax alto e tenor. Porém, até 1943, quando se mudou para o Rio de Janeiro e passou a integrar a orquestra do Cassino da Urca, Abel Ferreira teve uma relação semi-profissional com a música, alternando períodos em que dirigiu a programação de uma rádio em Uberaba, participou de orquestras em São Paulo e Belo Horizonte, e foi instrumentista de cabaré, com intervalos de recesso familiar em Coromandel, onde chegou a ser dono de sorveteria.
A partir de 1943, porém, a escolha pela música foi definitiva, com passagens pelas orquestras de Vicente Paiva e Bené Nunes, e o ingresso na Rádio Nacional, em 1949. Ali, além de acompanhar os principais cantores da época, Abel Ferreira fez parte dos grupos instrumentais Lyra de Xopotó (cujo som orquestrado por Lyrio Panicalli relembrava as bandinhas do interior) e Turma do Sereno (cujo repertório se baseava em serestas).
Da década de 1950 em diante, passou a excursionar pelo Brasil e pelo mundo com diversas formações. Em 1952, criou com o cantor Paulo Tapajós a Escola de Ritmos, viajando durante dois anos por diversas cidades do Brasil. Em 1957, apresentou-se com seu próprio conjunto em Portugal. No ano seguinte, formou o grupo Os Brasileiros, do qual participavam Sivuca, o Trio Iraquitã e o maestro Guio de Morais, percorrendo vários países europeus.
Com o pianista Bené Nunes apresentou-se nos Estados Unidos e no Havaí, em 1960, e com o cavaquinista e compositor Waldir Azevedo, na Argentina, em 1961. Alguns anos depois, esteve na Europa e na União Soviética.
No final da carreira, admirado e respeitado, passou a se apresentar em shows nos quais seu lado solista ganhou mais destaque, na esteira de um disco memorável: “Brasil, Sax E Clarineta”, sua primeira gravação verdadeiramente autoral, lançado em 1976 pelo selo Discos Marcus Pereira.
Tornou-se, então, o clarinetista preferido de vários cantores. Dessa época é um de seus solos mais conhecidos, em “As rosas não falam”, de Cartola, gravada por Beth Carvalho no disco “Mundo Melhor”, de 1976.

Discografia

Do primeiro disco, em 1942, até o último, em 1979, Abel Ferreira deixou registrada em gravações a sua trajetória de vida: música de cabaré e de baile, bandinhas, serestas, choros, e retratos de um Brasil ingênuo e romântico.
Suas gravações de início de carreira, em 78 rpm, podem ser ouvidas no site do Instituto Moreira Sales.
Seu LP autoral e o melhor retrato de sua arte, é:
  • “Brasil, Sax e Clarineta” (Marcus Pereira LP/1976) 
Este verbete está baseado, em parte, no conteúdo do livro:
“Um Sopro de Brasil” (Projeto Memória Brasileira, 2006), organizado por Myriam Taubkin, com verbetes redigidos por Maria Luiza Kfouri.
As fontes de Internet utilizadas na redação dos verbetes estão disponíveis na seção de Referências da Enciclopédia.
fonte
Músicos do Brasil: Uma Enciclopédia
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