Música, dança e silêncio

Nelson Motta - O Estado de S.Paulo
Quando o velho gramofone deu lugar aos novos toca-discos, na virada dos anos 20, a festa começou. O lugar do gramofone era a sala de casa, onde as famílias se reuniam para ouvir ópera e música clássica. Com as vitrolas e os discos de galalite, muito mais práticos e com melhor qualidade sonora, a música gravada se tornou popular. E foi para as ruas, para os salões e para galpões transformados em pistas de dança, onde, atrás das cortinas, tocavam as "orquestras invisíveis". Daí para as raves e os bailes funk foi um pulo.
A partir dessas ilusões sonoras as festas viraram trabalho para muita gente, se tornaram um negócio, um hábito de consumo de receita infalível: música, bebida e dança para todos os gostos e bolsos. Da favela aos clubes chiques, dos bares bagaceiros aos salões elegantes, a indústria festeira cresce sempre, até mesmo em tempos de crise, quando há pouco a celebrar, e por isso mesmo ela é mais urgente.

E como não há festa sem música, é desse encontro de interesses que vive e cresce a música dançante. É nas pistas da noite que acontecem as modernas formas da ancestral "dança do acasalamento" dos documentários de National Geographic. Muita gente diz que ama a dança pela dança e a ela se entrega com paixão, mas desde os cabarés, os dancings, as boates, discotecas, danceterias, raves e bailões, ela e a música não são a principal motivação das festas. São o cenário, a oportunidade e a trilha sonora para ver e ser visto, para dar uns beijos, ficar com, ou pegar alguém.

Se para dançar a música é uma solução, para fazer ambiente é um problema. Como bem disse Chico Buarque, se ela é boa, distrai a atenção e atrapalha a conversa, e se é ruim? então para que ouvir ?

A cada salto tecnológico, a música adquiriu novas funções. Hoje está em toda parte, no ar, nas ruas, nos celulares e laptops. E o silêncio nunca foi tão valorizado.

Apesar de todo o meu esforço e de muitas horas de trabalho, sorry leitores, mas sinceramente acho que esta crônica ficou meio boba. Quanto sacrifício para não falar, provavelmente impropérios e grosserias, sobre as paixões eleitorais.



Tópicos: , Brasil, Versão impressa
comentários para este post 6comente também

6 Sergio Barbi
25 de setembro de 2010 | 10h 27Denunciar este comentário

E falando em música as "músicas" que identificam perfeitamente o perfil dos eleitores da provável ganhadora da eleição presidencial são as do candidato a deputado Tiririca.



5 FRANCISCO CARLOS COUTO DE MORAES
24 de setembro de 2010 | 22h 52Denunciar este comentário

O COMENTÁRIO do próprio NELSON MOTTA terminou me lembrando "O BAILE", do ETTORE SCOLA, que não deixa de ser sobre o mesmo assunto: o tema parece idiota, mas a abordagem não poderia ser melhor. Gostei especialmente das referências à galalite e às "danças de acasalamento". Mas há um conteúdo latente muito importante: o fenômeno da alienação. Talvez nunca se haja dançado tanto na Alemanha como na época que precedeu o nazismo. Aqui, dança-se, e vota-se, e dança-se ...



4 victor caldas
24 de setembro de 2010 | 15h 27Denunciar este comentário

Outro dia uma leitora aí sugeriu que você só comentasse sobre música, que suas digressões sobre caudilhos latinos não fazia sentido. Diferentemente do Jabor, que pobre, envelheceu, perdeu o senso de humor, ficou ranzinza, previsível e maniqueísta, você não, mesmo quando quer passar um recado de protesto, sabe fazê-lo com distinção, elegância e inteligência. Parabéns por sobreviver ao tempo sem se idiotizar. Um exemplo a ser seguido. Mas confesso que concordo com a outra leitora: a sua especialidade é mesmo a música. A biografia do Tim foi incrível. Parece que ali você está conversando com o leitor. Uma narrativa agradável, leve e divertida. Pareceu bem mais informal até do que as tuas falas lá na Eldorado. Muito bom mesmo, tanto quanto essa crônica, que de boba não tem nada.

obtido em  ESTADÃO.COM.BR/Brasil
                
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/

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